Postagens

Mostrando postagens com o rótulo #amanhã

Como com viver sem.

Imagem
não canso de me querer escrever iletrado, tenho colecionado silêncios em mim, de finições e recomeços, ex-cutas zelo substantivo, zelo verbo:  a etimo-elegia do ciúme pedra fito, zentimento,  o eusquecer universamente o cheiro da minha filha  é mesmo o tsunami do Cosmos. 

É Natal, filha.

Imagem
É muito difícil quando chega o natal.  O natal sempre foi uma época difícil em minha vida. Como meu pai foi o décimo quinto filho de uma família pobre de Teófilo Otoni, seus natais foram marcados pelas diferenças dos sobrinhos que tinham condições e meu pai que não tinha. Na família da minha avó, aquela história de comprar um sapato pra dois filhos e um ir com um chinelo e uma atadura no pé esquerdo e o outro ir com o chinelo e a atadura no pé direito pra aula foi verdade.  Meu pai foi marcado pelo palpite de vários e vários irmãos acima dele, cunhados e cunhadas que tinham idade pra serem seus tios e pais que já tinham idade para ser seus avós. Isso fez com que ele escolhesse o caminho da individualidade. Para virar o adulto (maravilhoso) que é. Acontece que o natal não tem a ver com individualidade. Não tem a ver com a escolha da partida. Tem a ver com a escolha da partilha.  E um dia, ele chega, podemos escolher: vamos ter natais marcados por nossas dores, ou nat

Abrigo

Imagem
Comem: oremos. Alimentados, nus, sabedores de nossa ignorância e do sempre gostoso. O Menino Jesus colocou, finalmente, seu pijaminha de seda, sua pantufinha, escovou os dentes e passou perfume. Penteou o cabelo. Olhou no espelho e deu um sorriso. Abrigo. O Menino Jesus fica na pontinha dos pés e abre a tramela do destino. É mais um capítulo da minha história. Em cada canto, desejo de fazer o melhor que posso. Em cada espaço, a espera pela música da risada de minha filha. "Deus está no cantinho"- eu já disse. No travesseiro do tempo, deitei para despertar. É mágico o encontro com nenhuma expectativa e toda gratidão. Porque quando mesa posta, só se quer sorver e ouvir. Cheirar e sentir. O chão do Menino Jesus espera a cosquinha dos pés de minha filha. Enquanto isso, vou enchendo de amor cada cantinho, cada fresta, abrindo toda janela, destrancando cada porta, cobrindo de flores e sonhos, sabores e encantos paternos, ornuras. Chama, Menino Jesus. A paz, abrigo.

Telescópio

Imagem
Minha irmã, Gabriela, me fez um carinho difícil de colocar em palavras. Tento. Minha filha mora há 2.222km da minha casa. Lá, foi onde passou o dia dos pais. Gabriela pediu à mãe dela que gravasse: fala pra tia Biba o que você quer que ela compre pro papai de presente de dia dos pais. – Tia Biba, eu quero que você compre um telescópio pra papai! Disse ela, com apenas três anos e meio. Me espanto. Esse pedido é cheio de proximidade. Esse pedido é cheio de referências muito minhas que talvez ninguém ainda saiba. Quando eu tinha cerca de 10 anos de idade, Beto Bomfim, meu amigão – amigo do meu pai que me adotou como uma espécie de afilhado – me deu de presente uns binóculos. E isso marcou pra sempre a minha infância. Me marcou porque não pedi isso a ele. Me marcou porque, já naquela idade, intuí todo o simbolismo referente a um presente como esse... Me marcou porque foi meu amigo querido que morreu ferido com carvão em brasa pela palavra sexo, pela palavra

We're back

Imagem
Rock and Roll na veia. Ou na véia? A maior banda de Rock desconhecida do Brasil está de volta. Depois de amargar 4 anos na escuridão total, eis que ressurge como Fênix a banda Fenemê. Nunca ouvi falar? Provavelmente sua área não tem nada a ver com publicidade e propaganda. Formada desde o início por publicitários, a banda Fenemê era a maior banda de Rock desconhecida do Brasil. Sim, respeitável público, éramos 7. Bê Sant'Anna, este que vos tecla, nos vocais, acompanhado por Sílvia Behrens. Nas guitarras, Augusto Coelho e Francisco Brandão. No contra-baixo, Dan Zecchinelli. E na bateria Luciano Recife e Wagner Lanna. Sim, dois bateristas. Banda boa é assim. Tem até reserva de bateria. Era uma espécie de futebolzinho de terça à noite, mas sem campo, sem bola, com cerveja e muito rock. Nos reuníamos em um estúdio de ensaio sob o lema: "Ignorância é com o Fenemê" e sentávamos a lenha. Descíamos o bambu. Socávamos a bota. Na dúvida, toca alto! Dizia nosso baixista, sabi

The lone ranger

Imagem
2014, página em branco. A se definir. A se escrever. A ser deixada em branco. A ser lida daqui há alguns anos. 2014, página em branco. Meus dedos correm o teclado e não escolhem nada inusitado. Talvez queiram dizer que o ano do cavalo vai ser assim. Trote. Casco na terra, clop clop clop clop. Como um tic tac de um relógio. Um mantra do tempo. Um ano com copa, com eleições importantes, com inflação em alta, insegurança no mercado, restrição financeira. "Cavalo dado não se olha os dentes", diz a sabedoria popular. Não queremos que nosso cavalo precise de dentista. Queremos nosso cavalo relinchando, galopando, crina ao vento. Corcel, se possível. Puro sangue, de preferência. Cavalo de banho tomado, escovado, que brilha luz da lua, pasto verdinho, menina de vestido e laço no cabelo pendurada na cancela. Cavalo força, cavalo trabalho, cavalo fidelidade. Encontrei o imperativo do verbo ir no meu cavalo. Vou com ele. E não vou montado. Vou lado a lado do cavalo an

O dia em que morri

Imagem
Morri hoje, pela manhã. Sem que esperasse, sem que soubesse,  sem dar notícia,  sem palco, sem terno, sem lastro,  sem medo, sem tudo,  morri. Fui hoje noite, de dia. Amanheci, tomei café e fui morrer logo cedo. Morri feliz. Não tinha flor, não tinha odor e nem platéia. Não tinha médico, não tinha cético, não havia crente. Me fiz semente, morri somente. Morri. Me fiz maior, mor,  ri de mim mesmo. Foi num átimo, préstimo, servi pra algo: morri. Morri eu, comigo, mesmamente, morto completamente em vida. Morte. Quando vi VIDA e MORTE juntas pela primeira vez eu li: vidAMORte. Ciclo tímico, tácito,  me vi pétala em sua mão. Minha filha flor e eu arrancada vida em sua palma com um simples gesto de amor: – Te amo, papai! E eu, nada, escorri.  Esvaí-me sentidos todos, múltiplos, numa morte linda e pura e louca e intensa e imensa. Nudação. E renasci pelado pai, sorriso só, 

Di cadê leitura?

Imagem
Vou contar um caso. O exemplar exemplar de Grande Sertão: Veredas, edição de aniversário, ficou em cima do meu Baú de Sonhos Realizáveis na sala da minha casa por quase dois anos. Sim. Tenho um baú de sonhos realizáveis. E um molho de chaves, na mesma sala. Nele, não conte a ninguém, tem a chave desse baú. E a chave do Universo. E mais duas outras chaves. Uma abre meu cofre vazio. Nessa sala, uma estante de livros, um oratório que fiz solzinho, flores. Nessala exala meu gosto pelo simplesmentemeu. E de quem quiser chegar, mas com respeito. Nessala, entre chaves mágicas, ora tô rio, oratório, leio. Mar. E me em canto com os livros. De filosofia a gastronominha. Nossos sabores e os sabores do mundo que não cabem nessala. Um dia, depois de tanto passar do lado desse livro mistério, abri o Grande Sertão: Veredas pra nunca mais fechar. É um livro tão mágico, que ele só abre. Abre tanto, que quando a capa encosta na contra capa, forma um círculo de páginas infinitas. E causos