Casam, hoje, Biba e Dedé.

*

Para ler esse texto, aperte o play da música abaixo:


Quando Amor, a gente empresta a música que é só nossa.
Porque falar de amor para a irmã da gente tem um sabor todo especial.

A vida me deu a Biba. Ato falho contínuo, me refiro a Beatriz, minha filha, como Gabriela, volta e meia.

É assim: eu tentando aprender a ser irmão de verdade, o que sempre quis ser e não consegui.

Amo minha irmã acima das nuvens. Quando pequeno, eu fazia ludoterapia para tentar entender meu desentendimento do mundo. Nunca consegui abrir a braguilha da barriga da boneca grávida que tinha no consultório. Eu tinha medo do que viria pela frente. Eu tinha razão.

Mesmo não tendo aberto, minha irmã saiu, não da braguilha da boneca, mas da barriga da minha mãe.

Lembro-me como se fosse hoje: eu, no meio da sala da casa da minha avó, os tios e a primaiada em volta, e um trenzinho do mickey rodando meio sem graça na minha frente, que me deram de prêmio de consolação pela chegada da minha irmã e o consequente destituir do trono, que veio inexoravelmente.

Não foi minha irmã, mas por causa desse episódio, meu primeiro trauma: a traição daquele que mente ficou clara, translúcida para mim. Não foi ela que havia trazido o presente. Eu não era tão estúpido quanto pensavam. Até hoje isso tem consequências na minha vida e na relação que tento construir com as pessoas.

Minha irmã sempre foi pra mim a colombina de sapatilha de ballet e coração desenhado na bochecha. Ela é a própria caixa de música. Sua presença no mundo derruba vasos e cospe suco quando faço piada, gargalha sem medida no cinema a ponto das pessoas quererem descobrir quem ri assim depois que a luz acende. Ela acende uma luz em mim.

Eu queria ser igual a ela.

Minha irmã tem uma garra infinita, uma força inexplicável, indômita criatura que não cabe dentro dela. Ela é genial. Fica deprê com as agruras do mundo e é impaciente com a pseudo burrice alheia. Um defeito de fabricação que só passa batido porque seu coração é maior do que ela pode suportar. Minha irmã não sabe, mas é ela o termômetro da nossa família. Ela é quem tem a chave do coração do nosso pai. Ela que era a preferida da nossa avó. Ela que é a sobrinha mais querida da Tia Yara, a única matriarca que conheço que não teve filhos... Minha irmã brinca de gangorra alegremente com nossa mãe no parquinho da vida, enquanto eu observo ao sol, meu sorvete derretendo e melando a minha mão.

A Minha irmã.

A esposa do Dedé. Não conheço esse cabra direito, mas ele é um sujeito de sorte. E, pra minha sorte, ele a faz rir até dar vontade nela de fazer xixi na calça. Esse cara realmente é o Mestre dos Magos. E tem meu respeito, meu carinho e todo o meu apoio.

Mas esse texto é pra ela. Para quem nasceu assim, cresceu assim, e é mesmo assim: Gabriela.

Biba, pra mim. A que queria me fazer uma pergunta quando pequenos e entrava no meu quarto no meio da frase, sem bater na porta, invadindo meu espaço, bagunçando minha gaveta, me deixando puto e irritado. Aprendi a importância do limite com ela. De um modo às avessas, devo dizer. Mas com ela. Minha irmã me ensinou muito mais do que ela pensa.

A primeira estrofe dessa música tem tudo a ver conosco. Só que é ela quem canta pra mim. Eu calo quieto. Ela mete o pé na porta e faz acontecer. A vida inteira foi assim.

Por isso, empresto essa minha música pra ela no dia de hoje, quando meu desejo de felicidade extrapola o peito, transborda frases e palavreia versos sem rima. Empresto.

A ela, todo o meu Esquecimento.

Quero essa música pra ela e pro Dedé. Que eles possam ir, juntos, de charrete, de caminhão ou a pé, como eu, buscar a felicidade que não está na próxima esquina nem ao final do Caminho. Está no dia-a-dia, a cada passo, bem dentro de cada um de nós.

Agradeço por me fazer tão feliz, Bibinha.

(*Na foto, lá em cima, minha irmã, morando já no abraço do sortudo do Dedé.)








Comentários

Unknown disse…
Que texto maravilhoso!

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