Pegadinha do Faustão




Parece pegadinha, tal é o absurdo que foge à lógica da compreensão. Mas não pode ser considerado nem piada de péssimo gosto: o adesivo criado que coloca a Dilma de perna aberta no reservatório de combustível dos carros é triste retrato da violência que desintegra nosso país deixando nódoas difíceis de serem apagadas. Não tenho vergonha alheia. Tenho vergonha, eu mesmo, por mim mesmo, de fazer parte de um país que chega a esse ponto. Não consigo acreditar que isso seja manobra nem da oposição, nem de uma atitude guerrilheira perversa do partido da situação, que tenha como estratégia a disseminação do ódio e de uma ideia dicotômica de país, de partidos, de bem e de mal. Estamos mal. Todos. A indignação deveria ser geral. E, evidentemente, não só por isso. É claro que isso fere as mulheres. Mas nós, homens de bem, que tivemos oportunidade de educação e cultura, igualmente nos indignamos. Ou deveríamos. 

Estupra-se o ser humano. 

Não só a Dilma, o cargo que ela ocupa ou a pessoa que ela é. Não me interessa, nesse momento, que eu não acredite nela e que seja contra sua ideologia política. Achar que ela é ou não corrupta nesse momento nem faz sentido pra mim. Faz sentido eu defender o correto. A cidadania. O que nos faz (ou deveria fazer de nós) humanos, e não bestas. Somos seres sociais e precisamos preservar nossos valores a todo custo. 

Quero pedir desculpas pra Dilma. 

Não, eu não pregaria um adesivo desses, evidentemente. Mas alguém da minha espécie o fez e isso me envergonha. Diminui a todos nós. Um poeta e escritor amigo meu, Tonico Mercador, comentou: “e coloque no rol da estupidez que assola o país, o imbecil que vociferou contra a presidente Dilma, se achando porta-voz dos indignados. Ele é mais um dos garotões que agridem professor e mandam pai e mãe à merda. Nem Collor foi tão desrespeitado assim. Impressionante como a estupidez ganha adeptos com facilidade.” Acho que meu amigo tem toda a razão. Nada justifica a violência. Nem a indignação. Se não, faremos igual ao ETA, grupo separatista basco, ou a AL Quaeda, que explode a estação de Atocha matando quase 200 inocentes e ferindo mil e setecentas pessoas, achando que os fins justificam os meios... A briga de pais na frente de uma escola essa semana, em Belo Horizonte, não importa o motivo inicial, nem quem estava com a razão, é outra, de uma estupidez sem limites... Tenho certeza que nesse grupo alguém conhece um dos envolvidos. Eu conheço e isso não me faz querer defendê-lo. Em BH todo mundo conhece todo mundo... Se eu fosse dono dessa escola, pensaria seriamente em medidas cautelares exemplares e estruturaria uma série de ações pró pacíficas. Como as crianças julgarão este “exemplo” que tiveram? Alguém já pensou nisso? Como estará se estruturando a discussão em torno do acontecido nessa escola? Isso é muito mais sério (no caso, grave) para a formação dessas crianças do que a matéria de matemática do semestre, acredito... Enquanto insistirmos em veicular e reveicular a violência em todas as mídias, incluindo essa, só vamos colocar lenha na fogueira. 

É sintomático a CBN ter um quadro de nome "Boa Notícia CBN". 

Sintomático e triste. A Sociedade do Consumismo venceu. Enganou a todos se auto proclamando "Sociedade da Comunicação" e propagou seu modus operandi. Estragou, joga fora. Perdi o tesão, troco. O velho não presta, o novo é que é bom. Só o hedonismo tem sentido. Não me dá prazer nem curtição? Dispenso. Assim nós vamos. Tristes e infelizes. É preciso que as pessoas escutem as palavras teoricamente simples de um filósofo e pensador, dos que mais influenciaram o mundo contemporâneo e que tem uma profundidade não percebida pela maioria: “amai-vos uns aos outros como a ti mesmos”. Isso, sim, faria toda a diferença.


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