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Mostrando postagens de março, 2010

Cicatrizes e globalização.

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Museu. Os alemães têm uma grandeza difícil de compreender. De entender, sim, de compreender, difícil. Fomos ao museu dos judeus em Berlim e foi uma espécie de soco no estômago quando se está desprevenido. Na sala também fotografada por mim, onde rostos em ferro traduzem os tantos e tantos judeus mortos nos campos de concentração, o ser humano se vê mais humano. O sofrimento é simbolizado de tal forma que é preciso dar vazão. Chora-se ao som do vazio existencial, nas cores da incapacidade de amar, nos versos do silêncio do ser. É difícil compreender os alemães mostrando a ferida pra nós, com pregos em punho, futucando e futucando até sangrar. Até quando será que eles têm que pedir perdão? E mesmo com essa questão, saber que enquanto pedirem será pouco - imagino... Nobre. E triste. E belo. E superior. E impressionante. E horrível. E humano. Desde a guerra que os alemães não colocam mais um nome em seus filhos. Um nome muitíssimo comum na alemanha, mas que simplesmente não ex

Vattenfall - seja lá o que isso signifique...

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HALBMARATHON FINISHER, diz minha camiseta amarela. Hoje. Corremos os 21km da Meia Maratona de Berlim. Em um frio de congelar pirulito, saímos quase sem agasalhos rumo à largada da prova que aguardava 26mil pessoas. Primeiro, largaram as crianças. Em uma prova paralela de 3,5km. Depois, os patinadores. Que intessante vê-los deslizando pelo asfalto, num movimento constante, exercitando o que nos parece ser uma suavidade de movimentos... E chega nossa hora, bem depois. Foi o que nos pereceu, por causa do frio. Iniciamos correndo ao lado do pelotão que disse na inscrição da prova que faria cerca de 2 horas de corrida. Acontece que é muita gente. Não é como uma prova de 10km em BH, que depois de alguns minutos de prova, não há muitos corredores ao seu lado. Não. O pelotão é vivo, é massa, cavalga junto, em bloco. Se pode ouvir o asfalto sofrendo a cada passada, acusando as pisadas, sustentando a pressão. Mesmo com o Ipod em um volume considerável é possível ouvir a passada do bloco da multi

Mizuno abençoado, aí vamos nós!

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Lunáticos de plantão, levantai as bundas do sofá: vou pra Berlim sexta feita. Não, não digitei errado. Vou me encontrar comigo lánasoropa, rever um ou dois ou três ou quatro amigos do Caminho de Santiago, vou pra correr. Sim, correr. Ano passado fui pra andar, este ano vou pra correr. Corro, dia 28 de março, a Meia Maratona Internacional de Berlim. E corro, dia 11 de abril, a Maratona Internacional de Paris. Oui. Como assim? Assim, assado, passando hipoglós, Bepantol, tomando antinflamatório quando é o caso, com as juntas inflamadas, tendo caganeira por baixa de resistência, falta de imunidade... Sim, nem tudo são flores. O glamour de Paris não esconde os calos dos corredores. Não esconde os band-aids, muito menos as dores. No entanto, não esconde o choro, não esconde o riso, não esconde a passada franca, franca, descendo a Champs Élysées. Não esconde o abraço no Ladeira, o bê ijo na Silvinha e na Fefê, meus companheiros dos treinos, da força, das dores. As dores dão exemplo. Os trein

Lousa

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De modo um tanto seguro, um tanto titubiante, escreveu na lousa enquanto a menina entrava na sala de aula: " Minha alma é menino em sonho. E desperta acordado que somos amantes que sonham. Não acorde minha alma com água gelada da tina que só reflete o medo paixão. Toda água evapora. Beba isso. " Ela nada entendeu. Ficou esperando resposta, queria obviedade, queria matemática, queria a razão das palavras. Ele, domesticado no interlúdio de grandes movimentos, sabia a importância da pausa, do respiro, da distância entre o zero e o um na construção algorítmica... Ela olhou para o quadro, olhou para ele, olhou para o quadro, e não enxergou nada além da forma. Ele olhou para ela, olhou para ele, olhou para o quadro e pulou na piscina verde de letras brancas. Nadou entre as palavras, mergulhou nos sentidos, espalhou letras. Juntou significados a nossos in-significantes sentidos. Saiu molhado de tanto desejar compreensão. "É mais um dia de frases" , pensou. E resolveu deixa

Miquen

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-" Esse é pra vocêêêêêêêêê, vovóóóóóóó !!!!" - gritou Henrique, enquanto caia de joelhos, deslizando enlouquecido pelos gramados do campo de futebol, junto ao alambrado onde estava Vânia, sua avó. Meu primo. Henrique é meu primo de terceiro grau. Sua vó, Vânia, é minha prima. E Renata, sua mãe, minha prima de segundo: ela sim, quase da minha idade. Hoje minha mãe me disse: tá na hora de você ter um filho, meu filho . ... Se a pausa em sua vírgula fosse um pouco maior, eu ia achar que ela não queria um neto, e sim, outro filho. Isso seria constrangedor, principalmente sendo eu o filho único dela. FilhO. Sim, eu tenho uma irmã. Já comentei aqui no blog sobre ela. Ela, que não gosta de ler o blog porque acha tudo muito complexo, muito sem objetividade, muita viagem na maionese, quando nasceu, me trouxe um trenzinho de brinquedo. Pelo menos foi isso que meu pai e minha mãe disseram quando ela veio ao mundo... Psicologia infantil. Isso faz um beeeem... principalmente pra pais e mã

Dínamo

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Eu sabia que eu tinha que procurar lá. No Caminho de Santiago, em um dos dias mais difíceis, eu e Ramiro andamos 18km em baixo de uma chuva torrencial. Mesmo. A chuva lavou tudo. A terra, o barro, o cansaço, os ânimos, as brigas, os pesadelos. Pesad-elos. Mofávamos a carne enquando dávamos mais um e mais um passo, rumo às nossas concretas abstratas crenças. Verdades de menino. Nesse dia brigamos muito. A chuva molhava por dentro e por fora, ensebava as relações e não víamos a hora de ensecar. Encalharíamos ali mesmo onde, perto de lugar algum. Estio. Veio o vento, a água ainda corria em nós e na terra quando parou finalmente de chover. Na primeira nesga de sol, a inspiração: - Ramiro, quando eu voltar, vou estudar hebraico. Em silêncio, me olhou assustado. Um balançar de árvore depois, me disse: - Bernardo, Bernardo... pensa bem... olha lá o que você está fazendo... você fica procurando demais e vai acabar encontrando. O que você acha que vai conseguir com isso? Achar a chave do univer

sopalapalavras

Mais um dia de trabalho, mais um dia de expectativa, mais um dia. Meus amigos me malham. Acham ridículo o fato de eu ter um blog, de estudar um instrumento musical, de estudar a língua, de ir atrás da fonte, do silêncio, do pai da palavra. Pai? A mãe da palavra gestou o significante e se fez no ouvido referência do codificador da mensagem. Putz, que frase chata. Isso só pode ser reflexo de sábado até de madrugada, de domingo até de madrugada. De segunda com reunião marcada para as 6 horas da manhã, acredite se quiser. Qual a medida disso, daquilo, do que posso, do que devo? Coloco o Caminho no colo e levo-o enquanto der. Tem hora que ele gosta. Ele sabe que há dever, há de haver, há mistura, há impulso, há sisura. Há erros e há acertos. Há certos. Há. E vale à pena, sabe? Sente? (prometo que o próximo texto vai ser super pé no chão, preto no branco, obviedade, tá?)